domingo, janeiro 22, 2006

cenouras , cebolas e punjabis

Vi recentemente o Moonwedding, casamento à chuva na tradução, produto de Bollywood, a realizadora e produtora é indiana e pertence à raça dos punjabis e tentou captar a sua cultura, que como constata quem viu é de alegria, de côr e de valores não morais mas familiares... enfim um retrato fiel do que se passa na India agora que este país revelou um boom económico e tecnológico ainda que na realidade dos contrastes entre diferentes castas umas andem de bicicleta e outras de jaguar, mesmo em estradas destituídas à primeira vista de qualquer sentido organizacional.
As cebolas quando as cortamos fazem-nos chorar. Primeiro cortase-lhe a raíz, depois a cabeça antes de retirar a pele. Por vezes subsiste teimosamente mas de modo inglório uma fina e frágil pele incolor incapaz de cobrir uma raíz cortada e uma cabeça incapaz de intelectualizar o facto. As mãos são as mãos da sociedade que precisa de cebolas para continuar a viver, precisa de eternos apaixonados, não amantes, pessoas ociosas mas destituídas de capacidades artísticas, a sociedade precisa de se alimentar de cebolas, faz bem à circulação, dá sabor à sopa enquanto se desfaz e encontra o seu destino durante a cozedura e finalmente após a sua degustação. As cebolas não são corajosas mas parvas ainda que de estúpidas nada tenham.
Na verdade as cebolas são é parvas, debatem-se constantemente interiormente entre duas facções: o ódio e o amor às cenouras.
As cenouras percorrem o caminho do ethos, do futuro de serem úteis para além da circulação, fazem bem aos olhos e à visão, aliás a sua cor laranja é vaidosismo.
Não se esgotam no presente, não mergulham por entre o caldo da sopa quente no prato, fazem questão de se tornarem visíveis. São cortadas aos pedaços segmentados e lineares, não são picadas como as cebolas.
Estas vivem o caminho do eros do presente e invariavelmente apaixonam-se por cenouras. A paixão é algo de insuportável, é uma sobreposição dos sentimentos à razão, é uma incapacidade desta de absorver o coração. Quando assim é só há uma solução, fugir enquanto podes, mas como as cebolas são parvas não se apercebem que apesar de deterem o gosto não detêm a utilidade... são efémeras. AS cenouras ao contrário das cebolas são metódicas, previsíveis e trabalhadoras por isso quando uma cebola se apaixona por uma cenoura, só lhe resta partir para se juntar a outras cebolas, ainda que estas queiram sempre juntar-se com cenouras... se elas insistirem em juntar-se com cenouras então virá a insanidade ou o suícidio que tão parvamente enfrentam deixando-nos o seu gosto como carta de despedida.
No filme Moonwedding, um romance e como tal composto por vàrias estórias paralelas, a protagonista é uma cebola que gosta de uma cenoura. Mas esta cebola sabe viver a vida, é uma cebola punjabi e pede um casamento arranjado. Torna-se ela própria uma cenoura.

domingo, janeiro 15, 2006

O cavaco é socialista!!!

acordei hoje de manhã com esta notícia de campanha: O cavaco considera ser mais socialista do que os candidatos que realmente militam em partidos socialistas... bem como diria José Mário Branco " ismos práqui ismos práli isso até jà não quer dizer nada não é filho? votas na esquerda moderada nas sindicais votas no centro moderado nas parlamentares e votas na direita moderada nas presidenciais não é filho? Que é que eles querem mais? que lhes ofereças a Europa pelo Natal? ... pois pensam que te enganam ismos práqui ismospráli isso até já não quer dizer nada pois não filho panol é panol e o resto são bolinhas de sabão que se foda porque quem se lixa é sempre o zézinho mexilhão..." - música e letra escritas em 77 ou 79...
Pois é o professor afirma que passou já centenas de horas à conversa com os mais douturados e entendidos nessa matéria certamente tão complicada e de menor importância que a economia... a vertente social da política. Ora ele julga ter encontrado a sua própria aufklärung, já não chegava ser uma cabecinha nos números? a malta até lhe desculpava o mau uso da lingua portuguesa, afinal quantos e quantos luso-descendentes na frança também não praticam o franguês? A malta percebe que o professor detèm uma mente demasiado abstracta para saber que o plural de palavra-chave é palavras-chave e não palavras-chaves. A malta sabe que o senhor só percebe mesmo é de números e que se não fala mais em público é porque pura e simplesmente é um mau político no que ao uso da oratória diz respeito. A malta sabe que o senhor não gosta de Saramago e das suas ideias esquisitas que desenvolve nos seus livros, aquelas tretas de que se a península se separasse da europa e etc e tal.
Agora pergunto existe alguma verdadeira hipótese de o senhor ter realmente interiorizado algo do que lhe foi dito se pura e simplesmente o que lhe foi dito para si não foi em números mas sim numa qualquer lingua estrangeira, provavelmente português essa lingua tão lírica...
Eu até admitia votar no seu pensamento abstracto pura e simplesmente para fazer alguma oposição ao governo de maioria absoluta... mas assim jà vou ter que votar no Manuel... pode ser que ele como não vai à bola com o sócrates lhe faça alguma frente, socialisticamente falando pois tá claro.

sábado, janeiro 14, 2006

corpse bride 2

venho por este meio pedir perdão e redimir-me do texto - a noiva cadáver - na realidade não devia ter criticado daquela maneira os românticos alemães. Além de que se queria criticá-los o texto não foi lá muito bem conseguido, escrito à pressa que a vida não para só para deambularmos por entre as nossas filmarias interiores.
Fui ver o filme e adorei-o, digno de se ver no grande ecrã, o que mais me agradou foi as marionetas possuírem certos tiques de quem lhes deu a voz e o facto da estória ou antes a acção ser linear curta e cheia de pormenores irónicos por vezes cómicos por vezes trágicos - a própria vida da noiva cadàver, cuja voz desempenhada pela mulher do tim burton me fascinou.
Para me redimir então vou escrever um poema romântico sobre o fantástico:


Os pássaros passarão os ventos voluptuosos,
Fazendo dá-dá e assobiando cuspe sibilante
subirão acima dos sentidos vãos e sinuantes,
E zás: in das Stadtzentrum seres Fantabulosos!



OU como diria Zeca Afonso:
Se o pão que comes sabe a merda...
o que é preciso é animar a malta.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Estava a fumar um cigarro. Estava a fumar um cigarro e a pensar.Estava a fumar um cigarro e a pensar enquanto dava descanso à mão de tanto pensar... não tava a bater uma tava a escrever, ainda que quisesse que aquilo se fodesse. Ora bem, o capuchinho vermelho era pedófilo não era virgem, o lobo era pedófilo. a branca de neve era gira como o sol até custa olhar de frente - grupo musical qualquer de hip hop - ambas tiveram que sair de casa ambas tiveram que passar por provações e ambas as ultrapassaram e superaram ainda que ajudadas, nada se consegue sem ajuda especialmente quando somos crianças. A branquinha - pós amigos - teve a misericórdia do seu assassino e o capuchinho a ajuda do bom do homem que não sendo pedófilo era caçador... que realçe-se encheu o bucho do lobo de pedras... não tinha papado a avózinha e não queria papar o capuchinho? pois então ele que batesse à punheta o cabrão do lobo. Se bem que na verdade foi o capuchinho que desobedeceu a ordem clara da mãe para não se desviar do caminho ordem esta que quebrou em prol da beleza de umas efémeras flores... as flores e a beleza: efémeras. para quê desviarmo-nos do nosso caminho por beleza? o feio requer mais imaginação, o incaracterístico como imagem de marca como imagética do teu meu mundo... um nariz mais pronunciado do que o normal um corpo inerte sem curvas ou curvas sobre curvas até se fazerem montes... enfim imaginação. O fantástico, o real, as crianças como frontierpassengers ou grenzgängers... os românticos no entanto sendo pessoas adultas são descabidas não são crianças mas já que são artistas que escrevam para crianças, para as educar e ensinar a interaccionarem o seu mundo fantástico com o do real. Para mim que sou adulto o fantástico resume-se a uma ida ao cinema não faço disso vida, não me quero alienar do mundo, já chega quando a isso somos induzidos por vezes quase obrigados pela beleza pelo fantástico pelo misterioso pela curiosidade defeitos que não o sendo nada têm de virtude e apenas servem para passar o tempo numa constante espiral cristalizada de alienações do mundo, as crianças? essas já nascem alienadas ou é por acaso que são puras ingénuas e inocentes?

terça-feira, janeiro 10, 2006

eu quero

eu quero sopa de feijão e quero votar no louçã. quero que não me doa a cabeça e quero dormir. quero conseguir dormir. quero a minha cama de volta tou farto do sofá. quero os apontamentos fora da cama... não quero falar de sms`s mas só me restam mais 5 minutos de net. quero um avião para fazer dele a minha casa ou antes quero uma casa que voe que fosse o quarto já bastava ah e a cozinha porque quero pudim de ovos e mousse de chocolate. queria um 14 a alemão... tive 14 a alemão é o que dá ser uma professora e não um nazi de merda a dar as aulas...

segunda-feira, janeiro 02, 2006

passagem

não é que perceba de filologia mas a palavra acima referida como título - é que convém que seja passageira a sua utilização - provém provavelmente da junção de duas palavras : passo e " agem " que suponho terá origem no verbo agir.
Existem para qualquer tipo de transporte,sejam eles aéreos,marítimos ou terrestres - hoje em dia convém adicionar para além dos " undergrounds " também os espaciais,tão em voga, ainda que para carteiras mais recheadas e descozidas - há também para peões e para os carros - as de nível e as subterrâneas. Pagam-se ao I.R.S. as de escalão, aliás elas sucedem-se todos os dias por uma mera questão de cortesia ou de simples e prática organização em corredores apertados de repartições ou nas próprias filas de pessoas que não têm mais que fazer ao tempo que estar ali numa fila, à sua frente - porque é só para uma perguntinha - ou para uma outra fila lateral. Compram-se, pagam-se e dão-se.
Outras merecem-se, e daí talvez nem tanto como isso..., como as de ano escolar, ou aquela que nos saíu às ilhas Maldivas porque ganhámos um prémio literário qualquer...
Outras não se merecem assim tanto como isso mas vivem-se como um dia, um mês, uma estação ou até mesmo um ano. Quando se vivem estes momentos - estas ... - agimos cá por dentro, preparamo-nos para o que vem a seguir, para o próximo passo a ser posto no chão da nossa alma com a mais rápida firmeza possível para que o seguinte nos ampare no momento certo.Como os sentimentos precedidos de passos actuantes que tão ignorantemente apelidamos de acontecimentos... aconteceu...sem nos apercebermos que tudo acontece porque veio acontecendo numa rotina de passagens. Ontem senti-me tão só, quando devíamos dizer: tenho-me vindo a sentir só e ontem senti uma dor tão insuportável... Nietzsche ou Schoppenhauer, não sei bem, qual dos dois diria que podemos não agir contra a infelicidade, mas que o próprio facto de nos sentirmos deprimidos ou " em baixo " é por si só um acto de reconhecimento de que o nirvana existe - terá sido Nietzsche? - e como tal um acto mais operante do que possa aparentar uma primeira análise. Os sentimentos andam às voltas como as passagens, aliás têm muito mais em comum do que se possa imaginar... porque um antigo amor na nossa vida, tende a voltar mais tarde à nossa mente sob um outro olhar, para nos relembrar, ou quem sabe para preparar a chegada de mais uma p... . Nesta puta desta vida só a morte não passa, e ainda bem , somos animais insatisfeitos e ora veneramos a rotina ora adoramos uma boa passagem.