cenouras , cebolas e punjabis
Vi recentemente o Moonwedding, casamento à chuva na tradução, produto de Bollywood, a realizadora e produtora é indiana e pertence à raça dos punjabis e tentou captar a sua cultura, que como constata quem viu é de alegria, de côr e de valores não morais mas familiares... enfim um retrato fiel do que se passa na India agora que este país revelou um boom económico e tecnológico ainda que na realidade dos contrastes entre diferentes castas umas andem de bicicleta e outras de jaguar, mesmo em estradas destituídas à primeira vista de qualquer sentido organizacional.
As cebolas quando as cortamos fazem-nos chorar. Primeiro cortase-lhe a raíz, depois a cabeça antes de retirar a pele. Por vezes subsiste teimosamente mas de modo inglório uma fina e frágil pele incolor incapaz de cobrir uma raíz cortada e uma cabeça incapaz de intelectualizar o facto. As mãos são as mãos da sociedade que precisa de cebolas para continuar a viver, precisa de eternos apaixonados, não amantes, pessoas ociosas mas destituídas de capacidades artísticas, a sociedade precisa de se alimentar de cebolas, faz bem à circulação, dá sabor à sopa enquanto se desfaz e encontra o seu destino durante a cozedura e finalmente após a sua degustação. As cebolas não são corajosas mas parvas ainda que de estúpidas nada tenham.
Na verdade as cebolas são é parvas, debatem-se constantemente interiormente entre duas facções: o ódio e o amor às cenouras.
As cenouras percorrem o caminho do ethos, do futuro de serem úteis para além da circulação, fazem bem aos olhos e à visão, aliás a sua cor laranja é vaidosismo.
Não se esgotam no presente, não mergulham por entre o caldo da sopa quente no prato, fazem questão de se tornarem visíveis. São cortadas aos pedaços segmentados e lineares, não são picadas como as cebolas.
Estas vivem o caminho do eros do presente e invariavelmente apaixonam-se por cenouras. A paixão é algo de insuportável, é uma sobreposição dos sentimentos à razão, é uma incapacidade desta de absorver o coração. Quando assim é só há uma solução, fugir enquanto podes, mas como as cebolas são parvas não se apercebem que apesar de deterem o gosto não detêm a utilidade... são efémeras. AS cenouras ao contrário das cebolas são metódicas, previsíveis e trabalhadoras por isso quando uma cebola se apaixona por uma cenoura, só lhe resta partir para se juntar a outras cebolas, ainda que estas queiram sempre juntar-se com cenouras... se elas insistirem em juntar-se com cenouras então virá a insanidade ou o suícidio que tão parvamente enfrentam deixando-nos o seu gosto como carta de despedida.
No filme Moonwedding, um romance e como tal composto por vàrias estórias paralelas, a protagonista é uma cebola que gosta de uma cenoura. Mas esta cebola sabe viver a vida, é uma cebola punjabi e pede um casamento arranjado. Torna-se ela própria uma cenoura.