don'ana - a última xtória

Acordara vagarosamente ... rrrrraaaaaaaaaaaaaauuuuuuuuuuuuuuu ... espriguiçou-se e enquanto desenhava espirais no seu corpo morno e moreno lembrara-se de quando em idade infantil passava os dedos na borda dos cobertores para assim dormir ... agora investia o seu tempo em sentir nas suas mãos a respiração daquele corpo moreno e morno que desejava foder eternamente ... ainda assim e após algum debate interior não a acordou e voltou a deixar-se levar pela sinfonia das linhas das omoplatas, que discorriam e desenbocavam de modo clássico num vale de carne para logo depois subirem de novo em dois montes redondos de penugem invisível. Cá de cima os poros libertavam directamente nas palmas das suas mãos o calor que se entranhava agora na cama e por todo o quarto ... de repente tudo lhe cheirava a foder.
Haveria verdade maior que aquela?! Haveria algo por que realmente valesse a pena lutar que não aquele corpo morno e moreno que respirava ali ao seu lado, cujo cheiro se tornara agora seu?
M&M de chocolate que se derretia agora nos seus dedos e palmas da mão ...
Naquele momento a sua vida era isso : um M&M de chocolate que queria foder.
Aquele cheiro soava-lhe tão mais importante do que aquele seu último livro que escrevera ... Zahir ... o público havia aderido e um pouco por toda a imprensa crítica e literária este era analisado ao pormenor dando aso às mais mirabolantes interpretações que ele enquanto escritor se ria por dentro ao lê-las. Pior e torturante mesmo era a sessão de autógrafos inerentes à promoção do livro ... pensamento que lhe destesou de imediato o seu galeão Lusitano que nas últimas horas havia cortado e desbravado as ondas daquele mar índico, quente e revoltoso.
Não é que lhe fosse desagradável porque não era, no fundo era apesar de cansativo bastante divertido mandar bitaites acerca do livro aos orgãos de comunicação e sempre apareciam admiradores com os quais se passavam bons momentos à conversa.
Mas a literatura tirava-lhe a tusa e não queria pensar em mais nada naquele momento que não no golo do Luís Figo frente à Inglaterra do Europeu da Holanda ... isso sim afiava-lhe a faca. E ele queria era foder aquele corpo morno e moreno agora deitado de lado com as pernas cruzadas formando um estuário de águas estagnadas cheirando a sal.
Acendeu um cigarro e não lhe ocorria mais pensamento nenhum que não fosse o da desconfiança para com os iluminados e para consigo mesmo : Como poderiam os profetas serem dotados de razão se não tivessem já experimentado a loucura? e mesmo assim não se teriam eles aproveitado da razão para manipularem? O que os tornaria um pouco loucos certo? Deus? o racional. Jesus? o manipulado. O Espírito Santo? o louco ou como quem diz a voz da consciência. Assim , quem seguir Jesus à sua imagem será manipulado ... fode menos do que gostaria. Quem seguir Deus , manipulará e basicamente fode tudo conforme lhe apeteça. Quem seguir a Humanidade, o Espírito Santo ... não sabia nem lhe interessava na verdade ... ela voltara-se a mexer e ele voltou a pensar no golo do Luís Figo frente a esses cabrões desses ingleses de merda ... queria era foder.