domingo, março 26, 2006

Lei Seca

Enquanto tentava mais uma vez regular a água do chuveiro lembrou-se e pensou automaticamente que na altura havia discordado... não dissera nada. Sentiu a boca áspera e um rombo no estômago, por pouco não subira para o balcão acto demonstratório da valente ressaca. Ao tocar-lhe a água nos dedos dos pés bolhentos vinha já morna e na verdade não dissera nada porque não havia pensado muito bem no assunto ou porque chegara á conclusão de que na verdade nas aldeias e em especial as do interior a pressão da água nunca vem com a mesma força do que no litoral, bem pelo menos se tivesse em casa a tomar um banho ela estaria com pressão e ao meu gosto, mas assim... cá estava ele a tremer de frio enquanto sabia esperá-lo uns valentes escaldões. Riu-se da situação... cá estava ele havia uma hora, a água não tinha pressão suficiente para aguentar a água fria e a boca continuava a precisar de uma escovadela rapidamente. Quando fora crente poderia talvez revoltar-se contra Deus se fosse um mau crente... no fundo quem se revolta contra Deus não é um mau crente simplesmente iniciou o caminho que o levará à descrença pura e total, não ele na infância ter-se-ia resignado na contínua luta contra o diabo revoltar-se só o poderia fazer contra Deus... era mais uma provação divina ou uma maneira do diabo se divertir... mentes retorcidas sentidos de humor estranhos não? Mas e agora? contra quem lançar a sua ira? contra o smas, o facto de estar ali naquele preciso local, será que se pagasse residência a todos os habitantes do litoral no interior iria aliviar-lhe a dor por a poder partilhar depois á mesa do café? Lembrou-se daquele episódio de Seinfeld no qual Kramer soluciona o problema de Jerry de falta de pressão indo ao contrabando arranjar o ferrari dos duches... sorriu e disse para consigo mesmo que era mesmo disso que precisava... mesmo sabendo que um duche novo não era a solução para o seu problema... afastava assim o problema da revolta ao adaptar-se ao sistema e tudo ficaria em paz... podendo quem sabe mesmo vir a gozar com os amigos no café ou apresentar aquilo como um Pró a um futuro inquilino daquele quarto dos fundos. Por esta altura havia já decidido aguentar com os escaldões na pele enfim não arranjara um duche novo no contrabando mas adaptara-se e rendera-se às evidências aquela não era a hora dele e por muito que puxasse por ele nada iria obter a não ser uns breves escaldões. Agora já com água fria escovava finalmente os dentes e pensava na notícia do dia anterior: 3 toneladas de cocaína a boiar ao largo de Sesimbra... desde o início do ano os plátanos haviam já apreendido 16 toneladas de droga, mais em 3 meses do que o ano passado todo. É a lei seca... não havia droga e se bem se lembrava esta era maior seca por que passava.. quando comprava era de má qualidade, os restos e quando queria comprar mesmo estando disposto a pagar preços exorbitantes não havia... notava-se na cara de toda as pessoas pertencentes à tribo a cada notícia nova sobre apreensões no jornal das oito... era a lei seca e ele acabava de acender um cigarro pois a ressaca puxava...

2 Comments:

At março 26, 2006 10:03 da tarde, Blogger particula said...

Apeteceu-me dar lições de moral... como tal calo-me!
mas sabes que o texto está bom?!
boa interligação de ideias, bem escrito... o conteúdo faz a mãe dentro de mim brotar!

 
At março 29, 2006 12:43 da tarde, Blogger metatron said...

Era mesmo isso que queria... ainda que não saiba como isso foi acontecer hás-de me explicar... demasiado aborrecido e cíentifico não? sem emoções que não os de uma ressaca sem emoções que não os da passividade... ficou inacabado pois remexi e remexi e não lhe encontrei na altura saída.

 

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