domingo, maio 27, 2007

Receita de mulher
As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture Em tudo isso (ou então Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa). Não há meio-termo possível. É precisoQue tudo isso seja belo. É preciso que súbito tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora. É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços Alguma coisa além da carne: que se os toque Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma bocaFresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência. É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas No enlaçar de uma cintura semovente. Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras É como um rio sem pontes. Indispensável. Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida A mulher se alteie em cálice, e que seus seiosSejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas. Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebralLevemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal! Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!). Preferíveis sem dúvida os pescoços longos De forma que a cabeça dê por vezes a impressãoDe nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembreFlores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; eQue se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros. Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos Ao abri-los ela não estará mais presente Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber O fel da dúvida. Oh, sobretudoQue ela não perca nunca, não importa em que mundoNão importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre O impossível perfume; e destile sempreO embriagante mel; e cante sempre o inaudível cantoDa sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

Luma the cat used to think in english ... camon morais ... what the heck are you doing? writing?
Luma the cat used to think in english from america. After all in the brand new world there was no status, although the quo remained, luma could now be free from the antique europe´s institutions ...
In america everyone was an institution, so everyone could speak to everyone in the simple plain way of a friend speaking to another friend ...
Look at me morais , i´m a pussycat why don´t you write about me : the cat who put dogs miles away ... enquanto roía os seus lápis e os atirava para o chão ... you and your writings are very far away man ... i once knew a writer who was also writing about monkeys ... : he put in the Gorillaz lyrics and then he added some news on how cruel and stupid some food companys were ... not very stilistical though ... i guess he dreamt to become a joyce or a proust one day ... poor guy ...
arranhando agora os rascunhos do escritor, este estalou-lhe os ossos contra a parede : luma sua conas e desatou-se a rir ... conagata disse com sotaque chinês dando um rotativo no ar ...
Entretanto tocaram à campainha ... oh não!!!
Era ela e coisa boa não devia ser ...

4 Comments:

At junho 11, 2007 1:17 da tarde, Blogger sadabuapude said...

voltei...
ainda estás?
muito bom, como tu só.
grande beijo!

 
At julho 04, 2007 1:59 da tarde, Anonymous Anónimo said...

eu estou ainda aqui. vem para dentro e bebe um copo de agua
beijos
eu

 
At setembro 23, 2007 12:26 da manhã, Anonymous Anónimo said...

sorry...ja tinha tentado ma o meu pc anda a crashar a cada segundo..

este sim...ta lindo...fantastico...e mt mt verdadeiro mesmo estando a le-lo com olhos dotados de "certa maldade inocente"!
Mas olha...37 graus inda é mt cold...
jinho

 
At setembro 23, 2007 2:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

certa maldade inocente ... ok, mas sabes que isto � vinicius de morais certo? ... n�o sou como o menezes ... enfim quem n�o conhece o morais?
37 graus ... mt cold, ok isso sim � uma cr�tica objectiva lol
jinho caxopa

 

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